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Foto: Carla Caliman |
Nas décadas de 1930 e 1940 Espírito Santo e Minas Gerais
empreenderam uma disputa territorial na Serra de Aimorés. No local os ânimos
ficaram acirrados e, nessas terras consideradas “sem lei”, as relações entre
grileiros, posseiros e fazendeiros resultaram em episódios violentos. Surge
então Udelino Alves de Matos, figura envolvida na religiosidade e no
misticismo, que idealizou a criação de um novo Estado abrangendo terras das
cidades capixabas de Montanha, Pinheiros, Ecoporanga, Água Doce do Norte e Mucurici
e mineiras de Carlos Chagas, Nanuque, Mantena e Ataleia. Denominado de “União
Estado de Jeovah” chegou a ter secretariado, bandeira, sede e hino. Ele foi
desmantelado por uma ação policial, em 1953.
Documentos
sobre esse episódio foram doados ao Arquivo Público do Estado do Espírito Santo
(APEES) pelo jornalista Adilson Vilaça e podem ser pesquisados na sede da
Instituição, à Rua Sete de Setembro, no Centro de Vitória. O acervo refere-se a
uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada para averiguação dos
fatos.
Revolta do Cotaxé
Udelino Alves de Matos era procedente de Alagoinha, na Bahia. Ao
chegar à região contestada empregou-se como professor em uma fazenda. Segundo
Adilson Vilaça, no livro “Cotaxé: a reinvenção de Canudos”, Udelino era “(...)
bem-falante e socorria-se na bíblia para difundir ensinamentos aos
desbravadores da terra ainda indomada”. Em suas viagens à Bahia costumava
carrear posseiros para o trabalho no local. Conforme afirma: “O rapaz
eloqüente, enquanto distribuía lotes e apostolava, vislumbrou a ocasião de
constituir um estado independente no território”.
Vilaça explica que a região começou a atrair muitos colonos e teve um
crescimento populacional vertiginoso. Porém, a dupla jurisdição trouxe uma
marca: a violência ascendente. Diante da situação, relata o autor: “Udelino não
tardou em descobrir que havia uma só língua para unificar milhares e milhares
de deserdados: o dialeto da terra”. Com isso, angariou recursos e esteve na
capital do Brasil, o Rio de Janeiro, para solicitar a oficialização do “Estado
União de Jeovah”. Cotaxé - distrito de Ecoporanga -foi escolhido como capital.
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Foto: Carla Caliman |
Diante da situação os governos do
Espírito Santo e de Minas Gerais, sob a representação de Jones dos Santos Neves
e Juscelino Kubitschek, reagiram energicamente contra 866 homens armados de
Udelino. O “Estado União de Jeovah” ruiu e o paradeiro do líder continua um
mistério. Em 1963 foi acertada a partilha das terras, encerrando o período de
conflitos.
Adilson Vilaça destaca que as suas pesquisas pretendem
resgatar uma história envolvida em esquecimento. “A doação dos documentos ao
APEES possibilita tornar público o acervo e a realização de novos estudos”.
Vilaça ressalta que ainda existem no Norte do Estado marcas culturais relativas
aos fatos, como a comemoração, feita no distrito de “Prata dos Baianos”, em
Ecoporanga, que relembra, no dia de São João, a “roubada da bandeira”.
Informações à Imprensa:
Arquivo Público do Estado do Espírito Santo
Jória Motta Scolforo
3636-6100
joriascolforo@gmail.com
Arquivo Público do Estado do Espírito Santo
Jória Motta Scolforo
3636-6100
joriascolforo@gmail.com
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