Não é qualquer um que consegue
manter a compostura após ser chamado de “burro”. Em Cachoeiro de Itapemirim, no
Espírito Santo, há quem diga que o cronista Rubem Braga (1913-1990) atirou um
livro na direção do professor de matemática quando tinha apenas 15 anos, após
ouvir o insulto. Depois do episódio, ele foi embora da cidade, mas o povo
capixaba não o esqueceu. A primeira grande exposição sobre o escritor, com
cerca de 250 documentos, fotos e objetos, será inaugurada em Vitória no dia 28.
De lá, ela segue para São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife, até
que se instale definitivamente na Casa dos Braga, em Cachoeiro, em 2014.
A exposição, assim como outros
eventos que já acontecem pelo país, comemoram o centenário de Braga, que será
neste sábado, dia 12 de janeiro de 2013. O Instituto Moreira Sales (IMS), por
exemplo, realiza hoje, às 20h, no Rio de Janeiro, o evento “Assim canta o
sabiá”, com depoimento da escritora Ana Maria Machado. Já a Rádio Batuta,
também do IMS, disponibiliza em seu site (http://ims.uol.com.br/radiobatuta) a
leitura de duas crônicas do escritor: “Homem no mar” e “Faço questão do
córrego”.
Nas livrarias haverá novidades ao
longo de todo o ano de 2013. Um dos principais destaques é Retratos
parisienses, da editora José Olympio. A obra reúne 31 textos que retratam
personalidades como o artista Henri Matisse (1869-1954) e o filósofo e escritor
Jean-Paul Sartre (1905-1980). Inéditos em livro, eles foram escritos no período
em que Braga foi correspondente em Paris.
O Grupo Editorial Record traz
ainda mais novidades, como a edição especial de 200 crônicas escolhidas, a
reedição de Na cobertura de Rubem Braga, do jornalista e escritor José
Castello, e dois lançamentos: o infantil O menino e o Tuim, e Rubem Braga – O
lavrador de Ipanema, que reúne textos que revelam a paixão do escritor pela
natureza.
Lá em Cachoeiro
Apesar de tantos eventos que
ainda estão sendo programados pelo país, deve ser mesmo em Cachoeiro de
Itapemirim onde as atenções se concentrarão. A casa que abrigou a família Braga
desde 1913 foi tombada pelo estado do Espírito Santo em 2011 e será totalmente
restaurada antes de receber a exposição.
No local hoje funciona uma
biblioteca pública estadual e uma exposição, onde podem ser vistos recortes de
jornais, fotos e até o retrato a óleo preferido de Rubem, feito pelo músico
Dorival Caymmi (1914-2008). “Rubem foi o que mais se destacou na família, mas
ano passado comemoramos o centenário de Newton, um dos irmãos dele, poeta que
teve grande projeção no Rio de Janeiro. Relançamos a trilogia dele e publicamos
um livro inédito com críticas literárias”, diz Cristiane Paris, secretária de
cultura da cidade.
A exposição sobre Rubem vai
aproveitar parte do acervo na Casa dos Braga, mas também reuniu uma equipe para
pesquisar no acervo da família, na Casa de Rui Barbosa - onde há alguns
documentos sobre o cronista -, e também na Fundação Roberto Marinho, onde ele
trabalhou em seus últimos anos. “Colhemos depoimentos de personagens como
Ziraldo e Ana Maria Machado, reunimos muitas fotos antigas, passaportes
diplomáticos e até cadernos de anotações da época em que ele foi correspondente
de guerra”, conta o produtor cultural Robson Outeiro.
Rubem acompanhou a Segunda Guerra
Mundial como correspondente do Diário Carioca na Itália e cobriu outros
episódios históricos, como a Revolução Constitucionalista, em São Paulo, em
1932. Mas, apesar dos diversificados trabalhos na imprensa, ele se destacou
mesmo como cronista. Seu primeiro livro no gênero foi O Conde e o Passarinho,
de 1936, mas Rubem já vinha publicando desde 1928. “As primeiras crônicas
saíram no Correio do Sul, jornal fundado pelos irmãos dele, Armando e Newton,
em Cachoeiro. Ele escrevia lá quando tinha 15 anos. Nós conseguimos exemplares
dessa época, que agora já estão digitalizados e vão entrar na exposição”, conta
Carol Abreu, esposa de um dos sobrinhos de Rubem.
Carol foi a responsável por
reunir e organizar todo o acervo existente no Espírito Santo, incluindo o que
estava na Casa dos Braga. “Nada disso estava organizado. Conseguimos tanto
material que muita coisa vai ficar de fora da exposição. Por isso, acho
importante colocar o acervo na internet”, diz.
Os fãs do sabiá da crônica
agradecem.
Exposição “Rubem Braga – O
Fazendeiro do Ar”
De 29 de janeiro a 26 de maio de
2013
Palácio Anchieta - Praça João
Climaco s/n, Cidade Alta, Centro – Vitória - ES
De terça a sexta, das 8h às 18h;
fim de semana e feriados, das 9h às 17h
Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/reportagem/para-sempre-cachoeiro
Sobre a vida – e principalmente as circunstâncias que cercaram a a morte de Rubem Braga – vale a pena ler este excelente texto do mauro santayana, do Jornal do Brasil:
ResponderExcluirhttp://www.maurosantayana.com/2013/01/rubem-e-o-poder.html